02/11/2011

A Roteirista.

     
              Era uma vez, uma menina. A menina que escrevia história, a menina que vivia histórias.
            Suas redações sempre eram argumentativas, sempre faziam questões ao leitor, questões que muitas vezes não tinham respostas. Na grande parte do tempo, a menina passava lendo livros, ou então, escrevendo.
              Sua maior paixão.
           Dentro de sua mente, ela criava histórias, situações inteiras. Mínimos detalhes. Às vezes, sentia-se muito estranha, quando sem querer, se pegava inventando uma vida. Ela se prendia nessas histórias, entrava nelas.
             Esquecia o mundo lá fora.
            Se refugiava de coisas que preferia não ver, como ódio, dor, tristeza, inveja.. Achava que o mundo era só dela. Feito para ela. Só existia ela. No fundo, no fundo, sabia que não era bem assim, sabia que o que ela acreditava não existia.
             Nunca existiu.
           Criava histórias com finais felizes, às vezes, uma vida inteira ela conseguia criar. Se via ali. A menina sempre escrevia sobre amor, talvez, escrevia para ela mesma, queria que suas lindas palavras fossem uma realidade em sua vida. Só na dela. Esperava um dia, viver todas as situações que eram escritas em seu caderno. Escritas, manuscritas, rabiscadas... rasgadas!
              Até acordar.
           O sonho havia sido bom, havia sonhado viver cada situação escrita nas folhas amassadas jogadas pelo quarto. Tudo acontecia nitidamente, as cores eram tão reais. Ela chorava e sorria. Desta vez, chorava de alegria, sorria de felicidade. Havia encontrado o grande amor de sua vida, era perfeitamente perfeito! Ela tinha certeza de que na última página de sua história estava escrito: ".. e viveram felizes para sempre!".
            Nunca havia sido mais feliz em sua vida, seus contos, deixou de escrever, pois agora, eram reais. Todos. E talvez mergulhar novamente no mundo do faz de conta seria arriscado demais.
              Então acordou.
            Ela apenas estava escrevendo, e como sempre, estava viajando, acreditando no que escrevia, nada daquilo era real. Eram apenas histórias. O mundo não era mais só dela e as histórias por ela escrita, poderiam ser reais. Com outras pessoas. as outras pessoas amavam e eram felizes, sem precisar imaginar o escrever uma história para si mesmo.
            Ela concluiu que o problema era ela.
            Alguém precisava escrever a historia dela.
            Alguém precisava escrever o roteiro da vida dela.
           
            Ninguém se habilitou.

           Então, voltou a ser aquela menina que escrevia histórias, aquela menina que nunca seria a protagonista de história alguma, aquela menina que não passava de uma roteirista. Aquela menina cujos sentimentos todos conheciam. Só os sentimentos, pois eram transparentes através de seus contos.
           Ela continuava invisível.
          Estava cansada de ser tão pequena dentro de suas histórias, cansada de ninguém enxergá-la. Era tão insignificante. Ela estava perdida no mundo, que não era mais dela. Sua vida rodava em sua mente, e ela sem saber porque, desistiu.
           Mesmo sem saber o valor que tinha.
           Pois sem ela, as histórias não seriam escritas e não haveria mais amor.

2 comentários:

Rogerblz disse... [Responder comentário]

Ótimo texto, o final foi um pouco triste. Mas li ele muitas vezes e gostei muito, muito mesmo, pra mim esse texto foi um dos melhores que já foi publicado.

Continuem assim que ainda vão crescer muito com certeza.

Anônimo disse... [Responder comentário]

EU SIMPLESMENTE ME IDENTIFIQUE NESSE TEXTO ELE É LINDO, EU ATÉ CHOREI
Parabéns para quem escreveu o texto está simplesmente demais

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