O medo de pisar em pregos novamente

Foi medo desde o começo. Desde junho. Desde sempre.

Tiveram dias em que pensei que fosse perder absolutamente tudo. Quase certeza de que perderia o perfume francês doce, as piadas sem graça e fora de hora, as críticas sobre meu otimismo convicto, a zoação do meu sotaque desajeitado e enrolado. Pensei que fosse perder o carinho de leve no rosto, o beijo delicado na testa, o cochilo silencioso aconchegado em meu ombro e os dedos brincalhões entrelaçados nos meus. Achei que perderia sua letra feia, seu discurso decorado, as piadinhas com a minha banda favorita e o orgulho por conseguir tudo o que quer com o próprio mérito. O beijo calmo – seguido pelo quente. Cheguei à beira de acreditar que perderia você.

E já não me lembrava mais de como eu era antes de você.

Eu não me vejo em um silêncio profundo, sem poder pronunciar teu nome baixinho. Não me vejo sem teu sorriso torto – irresistível – e muito menos sem teus olhos castanhos me encarando curiosos. Eu não me vejo mais sem você. Amor. Sem escrever por aí, tudo para ti. Você passou a ser como minha música mais tocada ou como meu livro mais lido ou ainda, como aquela minha frase mais escrita, tipo o meu sentimento mais intenso – amor.

E por medo de te perder, decidi não me arriscar, como você mesmo diz “se o prego fura teu pé uma vez quando você é criança, depois de um tempo, quando já está cicatrizado, tu não vai pisar lá novamente só para ter certeza de que dessa vez não vai machucar”. Digamos que eu já fui bem teimosa há algum tempo andei pisando em pregos – o tempo todo. Olhe só as solas dos meus pés. Juro que o problema não é contigo, é com junho. Junhos em geral me assustam, não é meu mês da sorte e você assim, é como acertar todos os números da loteria, eu nunca fui lá a mais sortuda e quis saber logo onde estava o erro. Mas não tinha, era só um mix de medos – junhos, pregos, dores e desilusões.

Medo de dizer que eu te amo e te amar, mas no fim, você virar as costas. Igual uns junhos passados.