Posso
ver claramente, há 4 anos atrás, a vitrine daquela loja de sapatos femininos,
de péssimo gosto por sinal, naquela noite chuvosa de quinta-feira. Eu havia
esquecido o guarda-chuva na mesa de centro da sala de casa, se arrependimento
matasse, eu nunca teria tirado-a da bolsa. Bom, mas lamentar não a traria de
volta por teletransporte, muito menos faria a chuva parar. Agora só me restava
a cobertura daquela loja de sapatos esquisitos. E um ponto vermelho que se aproximava rapidamente.
A
chuva não cessava e aquele ponto vermelho tornou-se um vulto, que logo
tornou-se um corpo, trêmulo, por conta do frio e, inteiramente encharcado. Não
sei se eu havia exagerado nas bebidas durante o happy hour e não estava
raciocinando muito bem, mas um estranho se aproximando tão rápido assim, ás 23:40
não me causou nenhum medo. Talvez vocês não apresentasse tanta ameaça ou
talvez, eu havia sentido o peito arder, mesmo naquele frio de Julho. É, eu
estava bêbada.
Eu devia ter superado todos esses
calafrios e essas malditas borboletas, afinal, não era aquela garotinha de 14
anos indo dar seu primeiro beijo. Beijo? Que beijo? Nós
só estávamos conversando sobre a chuva e acho que você me perguntou há quanto
tempo eu estava ali, mas nem respondi, afinal, eu estava rindo como uma boba,
rindo do que você falava. Mesmo não tendo a menor graça.
Eu queria matar aquela garota de 14
anos que estava tomando conta de um corpo de 26 anos.
A
chuva deve ter parado após uns 40 minutos, após eu saber que você era um
publicitário infeliz por querer ser cirurgião, mas não ter dinheiro para pagar
a faculdade, soube também que você tinha uma loja online de canecas geeks, mas que
não dava lucro. E ah, claro! Como não lembrar do seu papagaio chamado Astolfo
que morreu na semana passada? Foi só isso que consegui prestar atenção, na
verdade, devo ter prestando atenção em 10 minutos dos 30 que você passou
falando da sua vida, eu estava louca (ou bêbada), eu queria você para mim, ali
mesmo. Na chuva, em frente aquela loja ridícula.
Parece
loucura. A chuva já havia amenizado, e nós dois, completamente estranhos. Estávamos ali, aos beijos.
Já
era quase madrugada e cada um tomou seu rumo, eu fui para minha casa, toda
feliz e sorridente, ao passar pela sala e ver o guarda-chuva, sorri.
Arrependimento não mata, e agora eu sei disso. Você havia me dito que teria que
viajar para Nova York naquela tarde á trabalho, mas que assim que voltasse me
ligaria. E ficaríamos juntos novamente.
Para sempre.
Você
não ligou.
Nem voltou.
Fiquei
sabendo que seu voo de volta ao Brasil atrasou, então você ficou mais uns dias
por lá, porém, voltando para o hotel, o táxi que você estava bateu. Você estava
sem cinto de segurança.
E toda a euforia e alegria do meu
coração foi enterrado á 7 palmos do chão, em Nova York.
Ás
vezes, eu fecho os olhos para poder te imaginar, mesmo que naquela quinta-feira
á noite, tão chuvosa e fria, eu ainda assim consigo lembrar de todas as suas
cores, ainda sinto o tecido daquele seu casaco vermelho e ainda sinto os seus
cabelos molhados entre meus dedos. Ainda sei o gosto do seu beijo. Mesmo 4 anos depois.
Eu ainda te amo.
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